sábado, 2 de novembro de 2013

finados é puro comércio.


morreram todos que estavam vivos.
e foram para o cemitério.
alguns, permaneceram lá por cinco anos,
outros, eternamente.
alguns são pisados pois não há nada que os marque no chão,
outros, são mármores e granitos lindos!
mas, no fundo no fundo, ao menos sete palmos de terra os unem.

porta do cemitério...
todo dia dois do onze é a mesma coisa:
__flores! flores! verdadeiras e artificiais!
__tem promoção e pra mocinha!
__(promoção e pra mocinha que estão enterrados ou não!)!
__água! sucos! cervejinha gelada!!
__espetinho!! quentinho!! aqui a carne é friboi!
__flores! não trabalho com preço, trabalho com qualidade!
__vai lá mininu! busca uns vazim pra mamãe!
__pega aí um folhetinho! visita lá!
__posso passar aqui?
__onde pego o ônibus?
__flores! flores! baratim! duas é cinco quatro é dez!

finados é puro comércio.
ou melhor, tá puro comércio.
há um grande esquecimento do real sentido de finados.
e isso é muito triste.

assim como todas as outras datas que homenageiam,
finados ta perdendo a tradição das indulgências, do resgate das almas do purgatório
e se parecendo com um daqueles programas de auditório.

resto do ano, cemitério vazio...flores secas, plantas ornamentais mortas
e ervas daninhas em abundância.
reviver a dor.
chorar.
lamentar o tempo perdido.
sofrer de um remorsso louco.
mais vale falar com Deus e pedir pela alma do ente querido
que ficar doente
de tanta
dor
de
ausência.

paciência...

aproveite cada segundo ao lado de quem é amado,
assim, visitar um cemitério não será prioridade
e nem o fim do mundo.
pagar o descuido de uma vida toda com mimos no dia dos finados é,
no mínimo, a certeza de quem não aprendeu a lição.

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