joguei as roupas mijadas na pia e desci água.

no meio da noite, desperto do cochilo na sala.
escuridão e silêncio e na tv uma reprise de algum programa da marília gabriela,
muito provavelmente algum cara a cara, face a face ou de frente com ela.
desliguei e fui olhar pelo buraco da fechadura se estava tudo bem la fora.
era nosso hábito: o último que fosse dormir, naturalmente, deveria conferir
o portão e ver se a luz de fora estava acesa.
vi apenas as plantas (que eram muitas) num balanço suave.

segui para o banheiro pé ante pé.
cuidando para não acordar ninguém.
levei a mão no interruptor e nada.
a luz estava queimada??
e agora?
erro a pontaria da privada?
não! não há como errar!
é só chegar em cima e mandar a urina!
fiz calculando a distância, queda, velocidade e altura.
dei descarga, e as águas começaram a supitar.
privada entupida?
que terror!
milagrosamente, a luz se acendeu.
era um mau contato.
e que coisa!
a privada estava cheia de roupas sujas!
urinei sobre elas e na descarga,
entupiram o encanamento.
desesperei e arranquei tudo a força.
poxa...tudo sujo...tenho que lavar...

era nosso hábito jogar as roupas sujas dentro do bidê,
nessa, alguém deve ter se confundido.
o bidê não era muito usado naquela época...
bidê? bidê pra quê? virou cesto e serviu mais pra gente!

joguei as roupas mijadas na pia e desci água.
pelo menos vou retirar o cheiro.
torcia cada roupa com muita força.
e nessa hora quem vem?
minha mãe natureza!
sempre acordava no meio do nada quando algo soava errado...
pela porta entreaberta me olhou com desdém,
meio que dizendo:
o que é isso meu filho??
meneou a cabeça, foi tomar água e voltou para cama.
e foi a minha felicidade!
rever mais uma vez minha mãe natureza na casa que nos deu tanta vida!
pura alegria!
e gratidão, muitíssima gratidão!
uma visita feliz na minha casa antiga!
a casinha dos meus sonhos,
com muitas flores, árvores frutíferas,
sombra, ventania!
ai meu Deus! que alegria!!