segunda-feira, 19 de setembro de 2016

a primeira vez que eu quase morri afogado foi no começo dos anos de 1980.


experiências ruins com a água.
a primeira vez que eu quase morri afogado foi no começo dos anos de 1980.
meu irmão mais velho deu na telha de construir uma canoa
com bambus e me embarcou nessa.
fomos para um lago daqueles bem amarronzados,
mas era fundo.
depois de amarrar bambu com bambu,
subimos na engenhoca:
eu, meu irmão mais velho,
mais dois irmãos e um amigo louco.
é, louco de andar com a gente!
era o moleque mais estudado entre nós
e se arriscou junto.
se afogássemos seriam, no mínimo,
quatro irmãos mortos de uma veizada só!
o mais estudado sabia nadar porque praticava natação.
bom, mal deixamos a margem e a canoa já demonstrava falta de estabilidade,
mesmo assim, seguimos remando com pedaços de bambus.
gente...olha o risco que corremos...
quando os remos não alcançavam mais o fundo
nosso barquinho começou a degringolar.
___volta volta volta!!
numa manobra alá robert scheidt,
retornamos em segurança para a margem.
essa foi a primeira sensação de impotência diante das águas.

no final dos anos 90 fui para salvador
tocar com uma banda de axé music mineira
na terra do axé.
quando já havíamos nos instalado numa casa
na praia do flamengo,
além de ensaiar para as apresentações
a gente queria era curtir o mar.
aôooo marzão!!
entramos nele como se fossemos velhos conhecidos.
tomamos caldo na beira da praia,
por isso decidimos avançar mais para evitar essas ondas nervosas.
tínhamos pé e fomos indo,
mas...de repente nossos pés sumiram e foi uma gritaria!
___nada!!!
nadar? eu não sei nadar...(resposta pensada).
eu e mais uns dois ficamos a Deus dará.
a força das ondas nos levava embora.
mas...como estávamos na bahia de todos os santos,
uma onda amiga nos arrastou de volta até a parte mais rasa
e dali saímos à pique.
que terror!
decidimos não sair da beiradinha,
afinal, a minerada não tava sabendo de nada!
essa foi a segunda experiência com risco iminente de afogamento.

em 2015 me casei com a minha água
(pois é...amo tanto a água que é assim que chamo minha esposa...)
e fomos passar a lua de mel na praia,
novamente, o nordeste, a bahia, terra da minha mãe.
chegamos à praia de imbassaí,
num resort all inclusive que vou te falar viu...
bão dimaissss!!
no primeiro dia ficamos apenas nas piscinas,
mas no segundo seguimos para praia.
era umas 16h00 quando decidimos curtir a água salgada.
uma bandeira vermelha indicava o risco para os banhistas,
de qualquer modo, dois salva-vidas estavam ali, sempre atentos.
o mar meio de ressaca fazia a alegria dos surfistas.
estava tendo aula de surf e, vez por outra,
um surfista passava muito perto de onde estávamos.
poxa, estávamos com água nas canelas!
minha experiência com mar não me deixava seguir pra frente,
mas decidimos seguir para o lado.
andamos uns 15 metros e nos sentimos mais seguros.
eis que...de repente!!:
cadê o chão?
a onda levou!
minha esposa me olhava assustada porém estava conseguindo boiar:
__amor...boia!!
__não sei....pede socorro...! (já submergindo)
ela seguiu para pedir ajuda enquanto eu dava os meus pulos para não me afogar.
nessas horas de tensão, onde a vida está por um fio,
a única coisa que a gente pensa é em viver, não dá tempo de passar filme não!
mesmo no desespero, me lembrei que no mergulho sou até mais ou menos,
não sei é nadar.
comecei a mergulhar e subir para respirar,
e repetia a manobra, colocava o braço para cima,
noutra subida dei um grito,
acho que o mais alto que já ouvi.
e fiquei nessa onda até o resgate chegar.
__acalma acalma!!!
__sobe na prancha! barriga pra cima! acalma!!!
e os salva-vidas me levaram até a areia.
__engoliu água??
__só um pouco...não precisa de boca à boca não...obrigado pelo salvamento...
__agradeça a sua esposa...e cuidado! aí tem um poção!
__poxa...deu pra ver...ainda bem que vocês estavam aqui...muito obrigado mesmo...
a praia toda tava me olhando,
fui andando e minha sunga pesava... me caguei?
nada! era areia! muita areia!
olhei para os outros banhistas e disse tirando os montes de areia da sunga:
__me caguei todo mas tô bem!!
o pessoal começou a rir e voltaram para suas atividades normais.
__amora, quase você ficou viúva hem?
__Deus me livre! você tá bem??
__numa escala de 1 à 10 de bondade que nota você me dá?
__3...
__nada! tô ótimo! nota 9!
realmente estava me sentindo bem, afinal, acabei de me livrar de um afogamento!
tomei um banho demorado na ducha externa e fez fila.
__calma gente, tomei um caldo forte ali e tô cheio de areia! mais um minuto!
depois desse momento traumático, fomos para as piscinas.
cuspi um pouco de areia e um restinho de água salgada saiu pelo meu nariz.
nossa...e isso me deixou tão feliz!
a felicidade está nas pequenas coisas não é?
quando retornamos para o quarto,
uma garrafa de espumante geladinha estava lá, de presente aos nubentes!
brindamos a vida! na janta pedi tudo sem sal.

o tema afogamento me voltou à mente
por causa da morte do ator domingos montagner.
que história surpreendente...
a ficção que visita a realidade de uma maneira tão assustadora.
o afogamento é uma entrega.
chega um ponto onde deixamos a água tomar conta do nosso corpo.
certamente, esse tipo de reação não se aplica em caso de fogo.
corremos o máximo que podemos do fogo,
até preferimos pular do prédio em chamas a
esperar as labaredas nos consumirem.
a água não dá essa alternativa,
ela nos envolve por completo já de cara.
que a família do montagner supere a dor da perda
e encontre forças nas alegrias do circo e
no colo de Deus, criador dos quatro elementos.
uma coisa é certa:
não se aventure sem saber o grau de periculosidade
de um rio, de uma praia ou mesmo de uma piscina.
se não souber nadar, fica a dica:
em caso de emergência, mergulhe!
mas volte para respirar!




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