terça-feira, 8 de agosto de 2017

o senhor sílvio, o preto de alma branca


"ele é preto de alma branca!"
disse o homem com toda seriedade.
mas...seria racismo?

o homem que repetiu esse "ditado" popular
é branco e dirigiu seu "elogio" para um senhor
cujo nome é sílvio.
sílvio é preto.

não entrarei na questão das piadinhas
ou do racismo velado, mas
sim no significado dessa alma branca.

o homem branco europeu
destruiu famílias inteiras
e dissipou culturas mundo novo afora.

o homem branco teve alma branca?
nem preta!
não teve alma.
foi desalmado nas suas intenções.
se ser branco é ter alma branca,
teoricamente, alma boa e evoluída,
ter a alma preta deve ser melhor.

o preto foi escravizado,
explorado mais que os solos de ouro, açúcar ou café,
foi humilhado e perdeu sua casa,
seus familiares,
tornaram-se coisas,
muitas vezes,
mucambas.

os homens vermelhos tiveram destinos parecidos.
foram expulsos de suas terras, foram trucidados
pelos homens brancos com suas armas e doenças.
em nome da civilização, da cruz, dos latifundiários,
da bancada ruralista, seguem perdendo suas cores.

minha cara fica vermelha com tudo que fizeram (e fazem) com nossos índios.

no brasil somos quase todos cotistas.
é preciso analisar mais que a cor da nossa pele:
nossa história.

o senhor sílvio, o preto de alma branca,
é uma pessoa sensacional.
faz tantas coisas boas, mas tantas...
mil vezes mais que o homem que disse a infeliz frase,
resquício vivo do nosso racismo internalizado,
o típico pensamento dos senhores de engenho.
ideias que correram nossa história
e permanecem, assustadoramente, vivas até hoje!
essas ideias tortas funcionam como uma espécie de conservante
e fazem das novas gerações também preconceituosas.

ser bom é ter alma.

nem alma branca, nem alma preta: alma.
se não acredita em alma, ser humano basta.


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