sábado, 23 de setembro de 2017

uma grávida trepando em árvore? nãooooo!!


hoje tive o prazer de chupar uma manga.
bastou o cheirinho para que eu voltasse lá pros anos 80!
mangueiras e abacateiros fizeram a minha infância.
além de ser, muitas vezes, o que tínhamos para comer,
era nossa diversão.
éramos 8.
somos!
8 irmãos!
5 homens e 3 mulheres.
crescemos à base de manga e abacate.

no galho mais alto de uma das mangueiras (eram quatro mangueiras gigantes!)
montei uma casinha.
bem, não era de fato uma casinha,
era uma espécie de tablado
com uma prateleira improvisada
para onde eu ia ficar na paz das alturas.
muitas vezes levava os meus cadernos e livros.
meu nome gravei com um estilete.

reservado!

ninguém conseguia chegar lá!
eu, sem modéstia, desbancava meus irmãos e amigos
no quesito escalada.
era mais que um macaco!
saltava sem medo de galho em galho.

__que pirralho! diziam os mecânicos de avião.

é!! eu morava no aeroporto
e o quintal da nossa casa eram os hangares
e, logo ao fundo, a pista!
meu pai era servidor público
lotado no aeroporto de uberlândia e,
como servidor, tinha direito à moradia
cedida pelo ministério da aeronáutica.

meus pais chegaram no triângulo
vindos de brasília em 1974.
nasci em 75, cresci na velha casa rodeada de árvores frutíferas.
citei as mangueiras e os abacateiros
e me esqueci do retorcido pé de laranja,
da frondosa copa do pé de tamarindo,
das bananeiras, goiabeiras e ameixeiras!

as frutas eram nosso ganha pão.
eu e meus irmãos colhíamos as melhores
e saíamos para vender.
o ideal era colher com as mãos,
sem sacudir os galhos.
a fruta descia sem qualquer dano.
algumas vezes fazíamos redes de pano,
sobretudo para aparar os abacates gigantes.
minha mãe enchia um carrinho de mão
com frutas selecionadas e partia para o escambo!
e voltava das mercearias sempre com pães, leite e fubá.
creio que o mingau de fubá foi a nossa segunda fonte...
minha mãe transformava frutas em pão:
o pão nosso de cada dia!
duro era quando as frutas saíam da estação...

acho que as habilidades em escalar árvores
herdei da minha mãe!
quando ela estava me gestando, subiu
num dos pés de manga atrás de uma sedutora fruta roxa.
era o desejo falando mais alto que a prudência.
uma grávida trepando em árvore? nãooooo!!
e ela caiu de uma altura de seis metros!
acho que me lembro desse tombo!
menos mal que ela tenha quebrado apenas um pé.
nada de rompimento de placenta.
diz ela que caiu pedindo ao divino pai eterno que me protegesse.
minha mãe era uma mulher de fé.
o divino atendeu!
sobrevivi até o nascimento e depois segui tendo vida!
e vida em abundância!
foi um parto normal mas enrolado no cordão umbilical.
nasci mais roxo que a manga do quintal!
ahhh minha amada mãe...minha musa inspiradora!
muitas saudades aqui!

quanta sinestesia!

bastou o cheirinho doce da manga!
quando então suas fibras se enroscaram em meus dentes...
foi como entrar na máquina do tempo!
as imagens se tornaram lúcidas, tão reais quanto
a primavera que encheu de flores minha pitangueira!
sorri feito um bobo e não vou negar que chorei,
lágrimas de chuva!
águas doces trepidaram nos meus olhos!
não marejei!
marejar vem do mar!
não vem?
e de sal pouco sei!
provo água fria de riacho,
arranco a banana do cacho,
pulo de 15 metros pra provar
que sou minino macho!
é certo que uma montanha de serragem amorteceu a queda,
as famosas brincadeiras sadias da nossa infância!
em tempo!: não chupei toda polpa da manga,
apenas o que sobrou no caroço!
a polpa mesmo vai virar papinha pro meu filho.
ele ama manga!
é assim todo bom moço.
goza as coisas boas do mundo
sem perder seus ares celestiais,
sua sacralidade,
misturando tudo aos prazeres carnais
em doses justas e honestas.






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