terça-feira, 18 de setembro de 2018

e surgem as cotas para negros.


o cara chega no brasil com uma corrente no pescoço
e grilhões nos pés,
trabalha sem parar,
apanha, come mal e dorme num lugar insalubre,
produz produz produz.
perde seus laços familiares,
perde suas referências,
vê sua cultura ser esfarinhada,
fica só:
trabalhando trabalhando trabalhando.
trabalho escravo devidamente autorizado.
quando ele já não tem mais nada,
de repente,
vem a abolição!

__pode ir! vaza!

então ele sai da propriedade do seu senhor
com uma mão na frente, outra atrás
e as inúmeras marcas de sofrimento
espalhadas pelo corpo:
olhos, cabeça, coração e as costas,
todas as partes marcadas para sempre.
não...!! o cara não teve tempo pra fazer um pé de meia
para comprar um terreninho,
alugar uma casa...nesse caso,
tempo era dinheiro! (?)

__vaza! pega andando!

então vai procurar algum trabalho remunerado
mas descobre que os italianos foram chamados
para suprir o fim da escravidão.
não tem nada,
só a fome e a dor.
e assim, lentamente, caminha neste país de racismo velado e veludo.
e percebe que a coisa é mais grave,
as reminiscências de quando tinha tudo,
lá do outro lado do atlântico...
voltar?
como?
então vai pro mato e se encontra com outros na mesma situação,
pegam para si um pedaço afastado de chão
e formam os primeiros quilombos pós lei áurea.
longe de toda civilização que não os reconhecia como gente,
muitos sobem para os morros, lá onde ninguém teria coragem de morar.
nascem, dessa maneira, as primeiras favelas,
longe de toda civilização que os apartava pela cor.
e assim viveram por anos a fio,
mantidos longe e pegando as rebarbas que sobravam dos brancos.
daí chega um quê de evolução humanitária
e surgem as cotas para negros.
um pouco de justiça?
sim! um mínimo reparo para quem, ainda hoje, sofre um tipo de preconceito
que parece nunca sair destas terras abençoadas pela santa cruz.
já se passaram 130 anos, a maioria entre a terceira e a quarta geração,
e as dificuldades persistem com a grande maioria da população negra do brasil
vivendo na linha da pobreza, com tremendo destaque
nas estatísticas de mortos pela violência,
de analfabetos, de encarcerados.

essas coisas não dizem nada?

essas coisas intimidam muitos negros que preferem negar suas raízes
e fazem de tudo para se embranquecerem.
são negros bem sucedidos como o neymar,
que já afirmou que não é preto, ou mesmo o pelé,
que poderia usar toda a sua importância no esporte
para se levantar contra o racismo.
são negros que tentam de todas as maneiras fugir dos estigmas da escravidão,
certamente, numa tentativa de fazer com que seus filhos consigam sobreviver numa redoma,
onde nunca sofrerão qualquer tipo de preconceito porque tem dinheiro,
afinal, dinheiro compra quase tudo, até um certo respeito.
com dinheiro se clareia a pele e transformam-se narizes,
salve salve michael jackson!

quando tudo parece mais ou menos esclarecido,
jovens negros se apresentam contra as cotas.

como vivem? de onde vieram? são negros "de alma branca" que eles falam?

e ainda fazem campanha para um candidato a presidente que ridiculariza
e menospreza os negros, que faz isso tudo publicamente,
escancaradamente, para ficar bem claro que lugar de negro é na senzala
por que nem os quilombos estão garantidos.

é...talvez só o globo repórter tenha resposta...

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