domingo, 15 de setembro de 2019

a saudade é terrível


minha mãe natureza me visitou mais uma vez.
quanta saudade!
ôoooo palavra esquisita...
saudade.
sempre cantada pelos poetas
como uma ode tristonha:

"Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi e voou
E hoje é já outro dia."
Fernando Pessoa

pessoa nos trás a possibilidade de um novo dia
para seguirmos com saudade ou mudar
o nosso estado lírico.

"Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim."
Carlos Drummond de Andrade

para drummond, a ausência, na verdade,
é uma presença escondida.
coisa de mineiridades.

"Saudades!
Sim... Talvez...
E porque não?
Se o nosso sonho foi tão alto e forte.
Que bem pensara vê-lo até à morte.
Deslumbrar-me de luz o coração!
Esquecer! Para quê?(...)"
Florbela Espanca

florbela prefere sofrer de saudades a esquecer de vez
o gozo de outrora.
esquecer pra quê né?

"Saudade é não saber
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos
Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento
Não saber como frear as lágrimas diante de uma música
Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche".
Martha Medeiros

poxa martha...expressa tão significativamente a sensação térmica
da palavra saudade que a gente fica sem saber o que fazer.
fato.

"Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus."
Chico Buarque de Holanda

o chico quebra a gente no meio com essa poesia.
a gente é metade de algo que se foi.
passaremos a vida toda sentindo falta.
isso é saudade das mais bem colocadas no papel
que eu já vi, ouvi e cantei.
chorei também.

ainda bem que temos a poesia.

minha mãe natureza veio me visitar.
estava na cozinha preparando algo
para comermos.

levava no colo uma criança de quase dois anos
e na cabeça, numa espécie de chapéu com
um chiqueirinho em cima, havia um bebê de,
no máximo, três meses.

ela fazia tudo com muita agilidade
e transparecendo uma felicidade irradiante.
dessa vez não me pareceu cansada.
os bebês não eram meus irmãos.
ainda não tenho certeza de quem eram.

de qualquer maneira, me fez recordar os tempos
de tremenda alegria ao lado dela,
sempre pronta para cuidar de cada um dos seus oito filhos.
ela improvisava qualquer coisa para nos alimentar
quando faltavam arroz e feijão.
minha mãe, minha inspiração.
obrigado pela sua visita.
a saudade é terrível
mas a gente segue em frente.
de vez em quando me pego tentando entender
o que significa essa saudade.
do nada sou confortado pela senhora,
minha senhora do céu.


Um comentário:

Jarneto Rezende disse...

Parabéns, meu irmão! Mais uma vez você superou nas palavras! Mamãe continua presente a cada momento que nos recordamos e derramamos lágrimas, como seu texto o fez. Depois continuemos nossa jornada, pela estrada da vida. Meu irmão brilhante: Jefersom, Jefin, o agora: Jack.