domingo, 8 de dezembro de 2019

ali mesmo eu lambia os dedos.


o lugar se parecia com um lixão,
mas era um lixão especial.
eu estava bem acompanhado por amigos de longa data.
a gente remexia caixas simetricamente largadas ao tempo por anos.
o interessante é que cada caixa que abríamos trazia uma nova surpresa.
balas, bombons, doces dos mais variados formatos e sabores.
o mais legal era que estavam muito bem conservados, apesar
de estarem há anos no meio do nada, ao sabor de todas intempéries.
ali mesmo a gente ia comendo um pouco de cada.
mais abaixo da montanha de caixas
encontrei alguns baldes lacrados.
bem ao lado uma marcação retangular no chão
com muitas moscas sobrevoando aquele pedaço
e mexendo suas patinhas enquanto reviravam a terra feito rola-bosta.
de cima de algumas centenas de caixas alguém gritou:
__aí tem um morto enterrado!
não respondi nada porque bem na hora consegui abrir um dos baldes,
dentro havia uma mistura de chocolate pastoso, deliciosa!
ali mesmo eu lambia os dedos.
um pouco mais a frente uma senhora de meia idade batia uma massa.
achei pouco higiênico mexer com comida no meio de tantos mosquitos.
__o que a senhora tá preparando aí?
__isso é massa pra bolo.
__bolo?? a senhora não está vendo que as moscas estão pousando na sua massa?
__mas é pra isso mesmo! isso será um bolo pega moscas!
alguns minutos depois ela estava estendendo o bolo
feito uma arapuca, e as moscas, mosquitos, vespas, besouros,
pernilongos e mosquitinhos fim-de-tarde iam aos montes
direto para armadilha, numa última olhadela para trás, choravam.
eles entravam dentro do vão da massa e de lá não voltavam nunca mais,
sumiam como se entrassem num portal de outra dimensão.
__agora todos morrem!
e realmente nenhum zumbido, nenhum sinal de vida, só açúcar.
acordei sem entender nada, mas com uma vontade tremenda de comer algo doce.

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