domingo, 6 de setembro de 2020

nisso, o ditão ficou impaciente


eu e o senhor ditão seguíamos a pé às margens da br 365,
rumo à rodoviária de uberlândia.
nossas intenções eram as melhores possíveis:
procurar irmãos de rua,
oferecer casa e cama pra eles.
paramos sob um viaduto para aguardar o melhor momento
para atravessar a movimentada via.
estávamos na área urbana da rodovia
e uma faixa para pedestres, por sinal,
muito mal sinalizada e apagada,
indicava o ponto para travessia,
teoricamente, segura.
esperamos um minuto,
dois, cinco...
e nada de alguém, sequer, reduzir a velocidade.
nisso, o ditão ficou impaciente.
__espera seu dito!
__humpft!
um caminhão muito grande se aproximou,
mesmo sem ter certeza que poderia atravessar,
o ditão entrou na frente do caminhão,
que, por ser muito grande,
escondeu outro caminhão que vinha ao lado.
diante da atitude impensada do dito,
não fui e presenciei a assustadora cena.
ele pisou na br e logo após o grande caminhão passou,
na sequência ouvi um o barulho de frenagem de emergência
e um cheiro de pastilhas de freio torradas.
um caminhãozinho três quartos,
que transitava ao lado, um pouquinho mais atrás
do primeiro caminhão, conseguiu parar e evitar
o que seria o atropelamento do ditão,
que, depois do susto, continuou sua caminhada.
com essa bagunça toda, os veículos reduziram a velocidade
e eu também atravessei,
para ganhar tempo e alcançar o ditão,
pulei uma proteção de aço
e me vi num canteiro de obras.
andei um pouco mas vi que tudo à frente estava bloqueado por máquinas
e muitos homens trabalhando.
decidi voltar, no entanto,
nessa hora uma grande estrutura de concreto estava sendo içada
e não pude voltar.
moral da história:
estava preso, sem poder seguir para lado algum.
ao longe via a cabecinha do senhor ditão.
esperei a retirada da peça gigante
e tentei voltar para o acostamento da br,
mas estava calçado com chinelos,
tentava pular e escorregava.
era só o que me faltava, pensei.
só me resta rir disso tudo.
despertei até cansado de tanto tentar
sair do buraco em que me meti.

Nenhum comentário: