ahhh os estádios de futebol...como estão lindos!

quanta dor naqueles olhos...
os pés pisam duro no chão
e as mãos fazem gestos involuntários,
a pele fede, o corpo se funde ao lixo.
excrementos se misturam a qualquer refeição.
comem como porcos quando a fome estala.
os lábios cortados, os dedos queimados,
a mancha no coração jovem deste país.

homens barbudos que aparentam longa idade,
mas escondem os 20 ou 30.
mulheres que, de tão tragadas pelo mau tempo,
aparentam 50,60...em plena força da juventude.
ai meu Deus... como o mundo é rude...

o traficante passeia longe dali
enquanto tantos se matam para mantê-lo assim
limpo, rico e perfumado,
com a mulher, as crianças e até o cachorrinho do lado.

na cracolândia as pessoas são como se não fossem gente:
nascem, crescem, descobrem as alegrias de uma família,
alguma decepção, uma amizade estranha e, de repente!
lançam mão de água, sabão e pente!
vasculham cada centavo da casa,
saem às ruas,
se prostituem,
furtam,
roubam,
matam...
e morrem muito a cada dia
cadeia, cemitério, internação compulsória...
sempre rodando na mesma inerte história
de onde não se cumprem leis,
de onde o sofredor não tem vez,
mas os estádios de futebol...

ahhh os estádios de futebol...como estão lindos!

os craques correm atrás de muito cascalho
enquanto muitos de nós, otários, ou quase otários de tão cegos,
torcemos loucamente pelos nossos craques da seleção!
outros talvez nem se lembrarão dos craques,
apenas de uma pedra,
a pedra que cruzou o caminho, e,
de uma cabeçada,
se fez crack.