segunda-feira, 25 de maio de 2015

algumas penas explodem no ar.


ele estava no meio do cerrado,
voando baixo, fazendo graça para os outros passarinhos.
muitos não tinham a mesma agilidade,
por isso, ele chamava a atenção.
as penas pretinhas e brilhosas,
o bico sujo de gabiroba,
os olhinhos atentos.
o bichinho seguia seu voo divertido, mas irresponsável,
meio displicente com os galhos tortos e folhas grossas do cerrado.

voando baixo.
esta seria a expressão correta para o carro que vinha cortando o cerrado
pela rodovia.
a estrada já está ali há muitos anos,
mas os animais não se acostumaram com ela.
talvez fosse parte daquele nicho,
talvez nunca representasse perigo
para quem atravessa voando.

aqueles olhinhos pequenos e pretos
muitas vezes testemunharam tamanduás
e tatus sendo surpreendidos por rodas
velozes e furiosas.
alguns animais ele viu voar também,
mas se espatifavam no meio do asfalto
ou caiam ribanceira abaixo.
aqueles olhinhos também viram
quando outros bichos
viraram sopa.

"isso nunca irá me acontecer"!, pensava.

segue o voo intrépido e rasante em busca de nada para agora,
apenas estripulias.
o voo perde os obstáculos,
um mornaço surge esquentando tudo,
as curvas se transformam em reta.
no meio do caminho,
alguma coisa inesperada o alcança.
um impacto violento,
algumas penas explodem no ar.

dentro do carro ar condicionado
tocando 19 graus ao som de bb king.
um barulhinho seco!
algum passarinho atravessou a frente do carro.
140 km/h eram pouco.
uma breve olhada pelo retrovisor
e uma coisinha caia do céu
no meio da pista quente.
não foi nada! alguém diz.
era o fim daquelas asinhas doidas.


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