domingo, 31 de maio de 2015

o que mais grave pode acontecer é um vômito.


às vezes, não há nada mais assustador na vida que um banheiro público.
ali se encontram as intimidades de todos os transeuntes
expostas no chão, nas paredes, nas pias e privadas.
anúncios, versos, pedidos de encontros, números telefônicos,
e-mails, coisas escritas a caneta ou a cocô.

o cheiro é estridente e
as narinas procuram se refugiar
mas é impossível.
algumas pessoas prendem a respiração antes de entrar
e fazem o que tem que fazer desesperadamente,
saem roxos, se explodindo de respirar
numa busca louca por uma brisa suave.
mistura de merda e urina extra laranja,
cheiro de secreções diversas
e excrementos de inúmeras composições.
o cheiro forte derruba os mais fracos
e deixa os mais fortes menos fortes.

o que os olhos veem também assusta:
a descarga com defeito deixa flutuando
muita bosta nas privadas,
o mix de fezes, com tons diferentes
e texturas, provavelmente, diferentes também,
simulam uma formação geológica.
nas bordas, cocô petrificado e escuro dão um ar de modernismo.
respingos de urina e sêmen deixam as paredes marcadas para sempre, são filhos deixados ao relento.
alguns tem o hábito de limpar os dedos nas paredes,
portanto, não é incomum encontrar tufos de bosta no azulejo.
isso, realmente, mete medo.
geralmente, a culpa é do papel higiênico,
que, assim como as toalhas de papel,
são raros no lugar.

o que se vê e o que se cheira
podem causar efeitos colaterais severos.
o que mais grave pode acontecer é um vômito.
meu Deus do céu...
um vômito no meio daquilo tudo seria uma trinca!
a tríplice coroa!
a cereja do bolo!
uma obra do andy warhol! que o senhor dos anéis nos livre!

de vez em quando quase sempre,
encontramos uma caixinha no canto da pia
com a frase antológica:
"ajude o zelador".
calma...não se preocupe...
isso pode ser uma pegadinha!
afinal, seus impostos estão em dia!

alguns versos ficaram famosos
nos banheiros públicos deste país.
o que mais gosto é aquele assim:
"cagar dá uma alegria profunda,
a bosta bate na água
e a água bate na bunda".
poesia concreta e molhada.
são engraçados os recadinhos!
como o meu ato de escrever aqui é mais contrito,
vou transcrever de maneira menos vulgar algumas dessas pérolas encontradas nesses antros da desova:
"dou o ânus e chupo pênis, podemos marcar aqui! 0000-0000"
"quero comer seu ânuszinho! deixe o horário que venho! 0000-0000"
"vou te deixar louco! faço de tudo e não cobro nada! marque comigo!to aqui 9 da noite! 0000-0000"
"tenho mãos limpas e boca de veludo, deixa eu pegar no seu peludo 0000-0000". os caras que conseguem marcar qualquer coisa dentro de um banheiro público
são fanfarrões, corajosos, vacinados e bêbados
"quem tem ânus tem medo" mas.... "ânus de bêbado não tem dono". credo com as cenas de opróbrio!

pior que usar um banheiro público
é ser assaltado dentro dele!
o risco é iminente!
sempre tem os batedores de carteira de plantão.
o sujeito estava urinando e dois meliantes enfiaram a mão no bolso traseiro da calça e
saíram correndo com a carteira roubada na mão.
o senhorzinho se virou desesperado,
levantou o zíper após interromper a micção,
o que já foi um grande sacrifício,
tentou correr mas o que conseguiu foi
beliscar o escroto.
choro, ranger de dentes, sem lenço e sem documentos, mas no saco, ferimentos. pobre homem...

no meio disso tudo de banheiros públicos
sob o olhar balzaquiano,
o que mais me deixa assim...
enojado mesmo,
são aquelas melequinhas de nariz grudadas na pia.
aaaaôoooo nojera!!
não dava pra desgrudar aquilo e mandar ralo abaixo??
nariz de porco pega bem na feijoada,
que, a propósito,
não como nem com fome!
bem, se eu estiver num deserto e não tiver mais nada na vida para comer,
certamente, comeria.
mas, louvado seja! não estou no deserto e nem naufragando!
mas é asqueroso!
nojento ao máximo!
catarros, secreções das vias aéreas,
meleca de gripe,
coriza para os chiques.
não!
isso não dá certo!
por favor,
retirem suas melecas grudentas das pias nossas de cada dia!
quer usar um banheiro?
vá na sua casa ou pague o pedágio!
ah! e faça a sua parte nos banheiros públicos!
ande com desentupidor,
papel higiênico,
papel toalha,
desinfetante
e sabonete.
deixem as artes para os artistas! afinal, cagar esculturas e mijar pinturas não é arte, é um escrutíneo da vida privada, é uma comédia sem graça.







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