quinta-feira, 12 de novembro de 2015

a natureza, a casa, a escola, a comida e o cachorrinho de estimação.


a lama desce encobrindo o morro.
o único aviso lá embaixo é a sujeira descendo a serra.
quem viu, correu.
quem não viu, morreu.

a empresa é rica e influente,
e o povo lá embaixo é gente humilde,
que trabalha na plantação
e na extração de minérios.

a mídia faz uma cobertura tendenciosa
e a verdade só existe pra quem está com os pés atolados.
nenhuma força tarefa foi vista.
alguns bombeiros e a defesa civil
fazem um esforço sobre-humano.
o povo sucumbe.

o rio doce se azeda.
os peixes morrem.
as águas turvas e grossas
descem rasgando a mata ciliar,
o mar capixaba que aguarde.
o meio ambiente sucumbe.

há quem queira continuar vivendo ali,
mesmo que desastres como este não sejam novidade.
outros casos aconteceram e a experiência
das autoridades competentes não constou no currículo.
entre 2001 e 2014, cinco desastres semelhantes
deixaram ao menos oito mortos, além de uma avalanche
de danos ao meio ambiente no estado de minas gerais.

no pior da série histórica, em cataguases,
cerca de 1,4 bilhão de litros de lixivia negra,
resíduo da produção da celulose,
contaminaram o rio paraíba do sul
e córregos até 200 quilômetros distantes.

a lama continuará nos envolvendo,
lento e gradativamente,
até que não mais tenhamos força no diafragma,
até que nossos pulmões se quebrem,
até que nossos olhos finjam não ver
e que nossos dedos apertem as teclas tortas.
nosso cérebro precisa de ar!
de preferência, puro!
o povo de bento rodrigues
e de qualquer lugar onde a lama chegou,
precisa de água limpa para um bom banho,
mas também de gente honesta que os restitua
a natureza, a casa, a escola, a comida e o cachorrinho de estimação.
precisam de atenção e respeito,
afinal, não são os culpados.
ah...os culpados...
secam suas lágrimas de crocodilo
em seus colarinhos brancos...

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