terça-feira, 23 de junho de 2020

amigo das antiga


amigo das antiga é uma gíria,
bem comum no triângulo mineiro,
escrita assim mesmo,
sem a concordância com plural
ou com gênero
para o adjetivo antigo.

os amigos das antiga são pessoas
que amamos, que tratamos bem,
que nos trazem boas histórias
e, às vezes, até histórias ruins,
mas sempre serão amigos das antiga.

tenho excelentes amigos das antiga,
para os quais já emprestei alguma grana,
já ajudei em algum sufoco,
já entramos em fria
(como se fosse o mário frias,
com a diferença de que ele não é
um amigo das antiga mas apenas
um puxa saco), já paramos na delegacia
e quase vimos o dia
amanhecer quadrado.
ao lado dos amigos das antiga
quase morri, mas, como diria
o roberto carlos,
"o importante é que emoções eu vivi".

com os amigos das antigas guardamos boas
recordações dos tempos de juventude,
onde as aventuras faziam parte da vida,
coisas que hoje, como quase todos
já tem seus filhos,
não se arriscariam novamente.

o bolsonaro se refere ao queiroz
como a um amigo das antiga,
não necessariamente com esta
belíssima expressão triangulina,
mas com o mesmíssimo sentido.

sentido!!

eita os tempos de quartel....!

os dois dividiram alojamento nos anos 80
e dali, certamente, guardaram boas lembranças!
a amizade seguiu e virou confiança.

após alguns anos, jair virou vereador,
deputado federal e chegou à presidência.
já o queiroz, foi para a polícia militar do rio,
onde chegou a ser suboficial.

o reencontro entre os dois colegas de caserna
aconteceu quando jair o indicou para assessorar o filho,
flávio bolsonaro,
em seu cargo de deputado na assembleia legislativa
do estado do rio de janeiro.
oficialmente, queiroz, que foi para a reserva em 2018,
era motorista do parlamentar desde 2003,
e aí começou a história da "rachadinha",
onde queiroz é um dos protagonistas.

nas palavras do próprio presidente em uma entrevista ao sbt,
queiroz "sempre gozou de toda a minha confiança"
embora soubesse que ele mantinha uma situação financeira atribulada
e "fazia rolo" - situação que não impediu que ele fosse
coordenador da segurança e chefe informal de gabinete do zero um.

hum...é pra pensar um pouco...
coadunar com a criminalidade
já é outra coisa.

queiroz estava desaparecido dos holofotes
mas as investigações corriam em sigilo.
ele não estava foragido uma vez que
não havia mandado de prisão,
no entanto, queiroz escondia seu paradeiro.
enquanto todos afirmavam com convicção
que não sabiam onde nosso assessor estava,
o homem dormia nas dependências do advogado da família,
diga-se de passagem, um advogado fiel.

frederick wasseff, conhecido pela alcunha de anjo,
escondia o homem do qual já havia dito não conhecer e
não saber onde estava.

como este inquilino caiu na sua casa?

opa!! casa não! escritório de advocacia!
tudo pensado direitinho para não surgirem
com uma busca e apreensão, afinal,
a lei garante esta proteção
aos escritórios dos advogados.

um ano de esconderijo
e nada do wasseff desconfiar.
e outra: esconder para quê se não estava devendo?

a parte legal disso tudo foi a live do presidente,
onde ele afirmou que o queiroz estava em atibaia para facilitar
o deslocamento para o hospital onde
o amigo fazia tratamento de saúde.
ele sabia de tudo mas...
o dono da casa não sabia.
esqueceram de combinar isso aí.

de mentirinhas em mentirinhas a gente vai acompanhando
o desenrolar desse imbróglio.
o advogado, teoricamente, já saiu de cena.
ele afirmou, antes de pedir as contas,
que nenhum dos bolsonaros tem responsabilidade
nesse pique-esconde do queiroz.

vamos ver até aonde essa amizade recente,
regada à saliva e bajulações, vai durar.
se algo der errado (mais do que já deu) alguém terá que pagar a conta.
será que o sítio do lula também é do wasseff?
tá tudo ali, pertinho né?
vou ficar na torcida
para que a valiosa amizade das antiga
entre o bolsonaro e o queiroz não seja
abalada por coisa pouca.
ao mesmo tempo, vou torcer,
também, para que o anjo desconfigurado
encontre um ventilador
o mais breve possível
para espantar o cheiro de enxofre do ar.






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