segunda-feira, 4 de agosto de 2014

pegou uma sacolinha e se abaixou para pegar as fezes.


a moça tinha um bom emprego e bons investimentos.
estava certa na vida.
mas perdeu o rumo no amor.
logo no amor...
desiludiu-se com os homens
e não os quis mais por perto.
foi ficando para tia.
foi ficando...
foi ficando...
foi ficando...
ficou!
é tia.
não quis saber de nenhum relacionamento
mais íntimo.
na cola da solidão,
foi ficando meio lelé.
foi ficando...
foi ficando...
foi ficando...
ficou!
é lelé!

controla a depressão e os atos desgovernados
com muitos medicamentos.
a agilidade é retardada
e o processo é lento.
faz docinho de limão para vender na porta da igreja.
o cérebro age de acordo com o clima.
do bolo só come a cereja.

ficou beata e lelé.
diante das desventuras,
conseguiu aposentadoria por causa dos tarjas pretas.
mas nem tudo está perdido!
o patrimônio adquirido em tempos de lucidez
garantem terrenos em plena valorização,
casas alugadas
e dinheiro da previdência no fim do mês!

mesmo com o financeiro em dia,
nada aquieta a tia beata.
saiu pela tarde afora.
uma carroça cruzou lhe o caminho no centro da cidade.
o cavalo soltou um rastro de cocô no meio da rua.
a beata lelé não se conteve
e quase pulou de alegria
quando viu aquele esterco todo!
__minha mãe ta precisando...as flores...as flores...
pegou uma sacolinha e se abaixou para pegar as fezes.
(vale lembrar que o ideal é esperar o cocô secar para colher mas...)
enquanto catava o adubo orgânico,
uma camionete deu uma ré em cima dela.
o motorista parou ao ouvir o grito,
mas parou com a roda traseira em cima da perna da moça.
dias de hospital e cirurgia.

cuidado!
pode ser mal de família!
não queira também ficar para tia!
meio caminho já está andado...
terreno...apartamento alugado...sei lá...
ainda bem que estou aqui!

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