sexta-feira, 7 de novembro de 2014

chorume, xixi, cocô, leite de cabra e de vaca.


a noite era de lua mas lua que é bom nada.
perdeu-se em meio a tantas nuvens.
andou rodopiante e viu-se embriagado.
sim.
estava embriagado com nuvens de algodão que lhes roçavam a garganta.
fere, mas não era para ser assim.
não se espera coisas do tipo vindo de nuvens.

calambiando, olha em torno buscando se orientar pela lua,
mas, como já sabido, ela estava por aí,
atrás das paredes densas de tanta água.
em baixo água ardente,
em cima,
água
diferente.

um buraco, um bueiro, um rato, um teto.
quase um teto, uma marquise goteirando.
é aqui!
o astro cai sentado próximo da porta de metal.
do chão, firma o semblante no céu.
não se conforma:
precisa se orientar pelos corpos celestiais!
satélites, luas, estrelas, constelações, buracos negros,
qualquer coisa que possa aliviar os pés trêmulos de um bêbado.
nem mapa astral, nem teto, nem chão.
rola para sarjeta num gesto ensandecido.
ali correm águas maltratadas,
chorume, xixi, cocô, leite de cabra e de vaca.

o mundo gira em torno dos olhos entreabertos.
agora, ele é o centro do mundo.
ressoam vozes.
náuseas...
ânsia...
de vômito!!!
uma mistura de bebidas de alto teor alcoólico e pururuca.
doem lhes pernas, estômago e nuca.
do outro lado?
sinuca!
os amigos continuam bebendo,
admirando a cena insalubre.
o mundo gira mais rápido.
poxa...tava tão alegre...

as luzes se apagam.
sono ou desmaio?
coma?
comeu nada!
vara a madrugada, cai chuva, encharca, quase é levado pelas águas.
amigos nessas horas não são amigos.

o sol chega ofuscado.
o tempo não mudou.
o homem sim.
despertou com um vira-latas lambendo-lhe a boca baforenta.
cachorro louco!
único amigo fiel até então.
levou a mão ao bolso, caçou, caçou, coçou...
havia perdido a carteira ou algum fim de noite, levou.
coçou...coçou...
as pessoas começaram a passar ao lado com indiferença.

fez força.
levantou-se.
caiu.
fez força.
levantou-se.
caiu.
fez força.
caiu.
levantou-se.
fez força.
cagou-se.
fedeu.
agora sentiu vergonha.
o cãozinho não gostou do odor e continuou seu trajeto.

ressaca...
arrastou-se até um poste,
como num jogo sensual,
abraçou forte.
firmou-se.

de pé!
tô de pé!
bradou silenciosamente.
seguiu errando as passadas.
seria passado mas não,
é um vício.
__acorda zé! acorda!!


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