segunda-feira, 27 de março de 2017

eis que chega um jovem 100% preto!


o racismo velado é fato,
e isso é comum no brasil.
às vezes, o velado se mistura
com o explícito.
e foi isso que vi.

estava trabalhando,
tocando o meu sax numa recepção
de festa de 15 anos.
de acordo com o cronograma,
na primeira hora teríamos
música instrumental comigo,
o pai, a mãe e a debutante
recepcionando os convidados.
tudo isso no pequeno hall de entrada do salão.

chegaram muitos adolescentes
e poucos adultos.
as meninas com suas saias curtas,
de certa maneira,
puxavam-nas para baixo,
talvez por um pouco de timidez
diante de tanta exposição,
talvez por desconforto.
e os meninos desfilavam
penteados alternativos
e modelitos à la crepúsculo.

bom, até então, não tinha presenciado
a chegada de nenhum garoto
ou garota negros,
mas...
eis que chega um jovem 100% preto!
magro, estatura mediana,
usando bermuda preta, um tênis desgastado,
camiseta padrão hering
e, na cabeça, um boné aba reta.
seguindo a ordem, estendeu a mão direita para o pai,
que, apesar do olhar desconfiado e sorriso desfeito,
estendeu a mão vacilante.
a mãe foi mais sútil e sorriu.
já a aniversariante deu-lhe um abraço caloroso.
o jovem foi festar!
um segundo depois o pai perguntou:
__uai,você conhece isso aí?
__meu amigo!
__que muleque esquisito...
__é meu amigo pai...!
a família era de loiros,
quase todos os convidados eram loiros, e,
se não fosse o jovem negro do abraço caloroso,
todos poderiam ser loiros e dos olhos azuis.
o racismo existe e persiste.
continuei tocando meu sax,
meneei a cabeça, fiquei triste,
mas continuei nota por nota
dando zero para aquele pai racista e preconceituoso.

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